Fitas adesivas na boca
Especialista alerta sobre o uso de fita na boca para dormir
Fitas adesivas na boca ganharam popularidade nas redes sociais, com a justificativa de que ajudam a ter uma melhor noite de sono. Mas, afinal, dormir com uma fita na boca pode impactar a saúde?
A presidente da Câmara Técnica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Profª. Dra. Maria de Lourdes Accorinte, esclarece que não é seguro dormir com uma fita adesiva na boca. “O corpo pode precisar abrir a boca para conseguir oxigenar adequadamente e, com a fita, a via é bloqueada artificialmente, o que pode tornar a respiração irregular durante a noite. Também gera um sono fragmentado, que não é reparador”, observa.
A profissional explica que a falta de um sono não reparador compromete funções fundamentais do organismo e as noites mal dormidas ao longo prazo afetam a saúde física e mental.
“Antes de sair colando uma fita adesiva nos lábios, é fundamental compreender a nossa anatomia. O corpo humano não funciona por modismos: ele responde à sua própria estrutura, às suas particularidades e às eventuais alterações na forma ou no funcionamento das vias aéreas”, alerta a Dra. Maria de Lourdes.
Dormir com a boca aberta pode ser um sinal em muitas pessoas de que a morfologia e a fisiologia podem estar alteradas, tanto por desvio de septo, rinite, posição da língua, formato da mandíbula e até mesmo por colapso das vias aéreas durante o sono. No caso de condições como as citadas, o organismo pode obrigar a pessoa a dormir com a boca aberta para conseguir respirar melhor.
Respirar pelo nariz ou boca?
A Dra. Maria de Lourdes diz que respirar pelo nariz é sempre a melhor opção, porque ele funciona como sistema de filtragem, aquecimento e umidificação natural do corpo, protegendo os pulmões e garantindo maior eficiência respiratória.
A cirurgiã-dentista ressalta que, em crianças, a respiração bucal pode causar um desequilíbrio muscular da face, alterando o desenvolvimento ósseo e resultando em dentes desalinhados, mordida aberta, cruzada entre outros problemas. A respiração bucal também afeta adultos, podendo gerar cárie, gengivite e mau hálito, pois, com a boca aberta, o fluxo salivar diminui e a proteção contra essas alterações também.
Apneia do sono
A apneia é o distúrbio que faz a respiração parar ou diminuir durante o sono. Entre as consequências que a apneia do sono traz estão: dificuldades de memória e aprendizado, redução da capacidade de concentração, oscilações de humor e, em alguns casos, como apneia mais severa, pode levar ao infarto, AVC e até a óbito.
Com a avaliação clínica, exames de imagem e polissonografia, que serão recomendadas conforme supervisão do médico ou cirurgião-dentista, considerando aspectos de comorbidades e severidade da condição.
A polissonografia do sono é realizada em casa ou em clínicas - o paciente dorme uma noite inteira, com uma série de plugs de aparelhos instalados que avaliam o fluxo respiratório, movimentos, batimentos cardíacos e outros.
Diagnóstico e tratamento
O especialista irá definir o diagnóstico por meio de relatos do paciente, como a questão do ronco, sinais de sonolência diurna, cansaço ao acordar, despertar algumas vezes durante o sono, demora para retornar ao sono, intensa necessidade de ingestão de café e energético. Além destes sinais, o médico ou o cirurgião-dentista poderão solicitar uma Polissonografia do Sono, que fornece informações mais detalhadas sobre a qualidade do sono.
Entre os tratamentos indicados, a Dra. Maria de Lourdes cita o CPAP ( aparelho de fluxo de ar contínuo positivo), aparelhos intraorais confeccionados por cirurgiões-dentistas, capacitados em Odontologia do sono, assim como fisioterapia respiratória e tratamento com fonoaudiólogos.
“Lembrando que a obesidade é um grande fator de risco para apneia obstrutiva do sono, sendo nesses casos, comprovado cientificamente, que a perda de peso pode melhorar em até 50% a apneia. Em outros casos, a associação de cirurgias realizadas pelo otorrinolaringologista, em casos de alteração na via aérea superior, ou pelo cirurgião-dentista, bucomaxilofacial, onde alterações esqueléticas de maxila e mandíbula estejam envolvidas”, destaca a presidente da Câmara Técnica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial.
Papel da Odontologia
O cirurgião-dentista pode ser o primeiro profissional a diagnosticar a apneia do sono, principalmente em casos de crianças, visto que ele é geralmente o primeiro profissional a reconhecer alterações orofaciais, como a presença de olheiras, boca aberta, palato profundo e ogival. Além de maus hábitos como chupar dedo ou chupeta.
A Dra. Maria de Lourdes finaliza reforçando que colar uma fita adesiva na boca pode mascarar ou agravar uma condição clínica que deve ser corretamente diagnosticada e tratada por equipe multidisciplinar. A especialista também afirma que a boca aberta não é um problema em si, mas um sinal de que algo na respiração nasal não está funcionando como deveria. E, nesses casos, colar ou tapar a boca não resolve, podendo até piorar a dificuldade respiratória ou mascarar uma apneia do sono não diagnosticada.
Sobre o CROSP
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente.
Hoje, o CROSP conta com mais de 175 mil profissionais inscritos. Além dos cirurgiões-dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Técnicos em Prótese Dentária, Técnicos em Saúde Bucal, Auxiliares em Saúde Bucal e Auxiliares em Prótese Dentária.


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