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Crepúsculo dos Casais - Fabrício Carpinejar

Olá meninos e meninas tudo bem?

Li esse texto de Carpinejar  e achei além de interessante,  engraçado, então para descontrair essa quinta feira, trouxe para nós lermos juntos.

CREPÚSCULO DOS CASAIS
A namorada de meu irmão começou a elogiar o vampiro Edward, do filme Crepúsculo. 

“Aquela palidez, aqueles traços selvagens, o corpo perfeito.” 

Enquanto ela discorria metaforicamente, tudo bem, até a hora em que entrou o corpo perfeito. Foi um banho de realidade. Ele a via se esfregando no box e dedicando o pescoço ao canastrão. Não importava se a menina ad­­­mirava o personagem ou o ator Robert Pattinson. Ambos se tornaram um inimigo declarado dele e de seu time de futebol de terça-feira. 

Homem somente arde de ciúme de um ator quando venerada sua força física e muscular. Pode falar das ideias, da inteligência, do romantismo, do caráter, nada incomodará. Erudição e sensibilidade são alcançáveis mesmo com uma barriguinha de cerveja. O trauma é acabar com a barriguinha de cerveja. 

Namorada, quando comenta o tórax, o tronco, as pernas de um ator, logo completará a provocação “eu faria qualquer coisa com ele”. 

– Qualquer coisa?, o namorado retruca. 

– Sim, qualquer coisa. Sua sorte é que ele não mora aqui. 

Ainda solta um risinho, que aumenta a malícia da frase e o conteúdo misterioso e encorajador da oferta. 

A noite estará estragada com o inofensivo diálogo. 

Em primeiro lugar, o ciumento vai concluir que não faz qualquer coisa por ele, que ela guarda segredos e posições intocadas do Kama Sutra. Já a imagina cumprindo um spacatto na mesa de jantar. 

O homem tem muito mais medo de ser corneado pela fantasia feminina do que pela parada de ônibus. 

É desvalia funcional. Se quer que o ex cometa suicídio, espalhe a fofoca de que desmanchou o relacionamento porque o tamanho não a satisfazia. 

Uma coisa é concorrer com o vizinho, outra é concorrer com Rodrigo Santoro. 

Mostrando que é do mesmo sangue, meu irmão não deixou por menos. Uma semana depois, de um modo premeditado, é óbvio, comentou olhando para o lado, assim como quem permite o guardanapo cair, de que Robert Pattinson é excêntrico e não toma banho. Desejava, no mínimo, eliminar a incômoda fantasia do box. 

– Como descobriu? 

– A notícia estava num site e li por acaso. 

– Que nojo, Robert parecia tão cheiroso. 

Ele não contou que pesquisou tudinho sobre o ator, cabulou uma tarde do serviço, criou uma pasta exclusiva com informações confidenciais de sua história, de seus hábitos e superstições, que a expressão mais pedida em seu Google era Pattison. PATTISON. Com a convivência forçada, criou uma simpatia pelo sujeito, mas era tarde para iniciar amizade. 

Mais grave foi um amigo carioca, nova vítima do Crepúsculo de Stephenie Meyer. 

– Não aguento mais esse seu calendário pilomax: lua nova, eclipse, amanhecer? 

A esposa comprou a coleção inteira e passava os dias lendo. Não é um modo de expressão: lia co­­­mendo, lia no banheiro, lia atendendo os filhos, lia de pé. 

Robert PattinsonNem conversava mais com ele, a não ser quando surgia a palavra-chave “imortalidade”. 

Assoberbado de inveja, inventou de arrancar com estilete a última página do quarto e último volume. Nem despistou, aparecia na costura a rebarba da folha censurada. 

Pressionado pela mulher, confessou o crime, cheio de razão. 

– Nunca saberá o final da história? 

– Não preciso, a nossa termina por aqui. 

Divorciado, duro, frustrado, hoje entende que as mulheres sempre preferiram os vampiros aos lobisomens. 
Publicado no jornal Gazeta do Povo 
Caderno Viver Bem
Barrinha
Gosto muito de tudo que  o Carpinejar  escreve, acho ele de uma inteligência sem par, e quis compartilhar esse texto com vocês, espero que tenham gostado.

Abraços e carinhos, até a próxima ...
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Comentários

  1. OI ! Eu concordo contigo acho o Carpinejar muito inteligente .Gosto muito dos textos dele.Bjs

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